UMA FESTA EM DIA CHUVOSO
Gotas, Gotas e mais
gotas! A chuva caia em uma trade de setembro, transformando o gramado da quadra
de tênis em um pântano, despetalando as rosas, estragando os gerânios e fazendo
com que melros e tordos se apressassem para procurar abrigo no interior da casa
de verão.
Era uma chuva firme
que parecia não ter mais fim; não restava uma porção sequer do céu azul;
grandes caracóis negros rastejavam ao longo do passeio do jardim como que
apreciando o banho; e o barômetro no salão, que começou o dia no “Estável”, já
indicava “Alteração” e não mostrava sinais de que subiria novamente.
Acomodada em uma
grande poltrona colocada próxima a uma janela na bem mobiliada sala da frente,
uma menina de cerca de onze anos de idade sentava-se espiando ansiosamente para
o clima.
“Está tudo molhado!”
ela comentou alegremente. “Parece que o dia não vai clarear e que já são quatro
horas agora. Eles não podem vir, por isso vou apenas me acalmar e me divertir.”
Ela falou em voz alta
para si mesma, um hábito muitas vezes cultivado por crianças solitárias e,
abrindo uma cópia do Ivanhoé, ajeitou-se em uma atitude de ainda mais conforto
e começou a se preparar para ler com o desprezo aos acontecimentos exteriores
que marca o verdadeiro amante de livros. Ela era sim uma criança bonita; suas
feições eram boas embora o pequeno rosto fosse pálido e magro; seu cabelo era
macio e ela tinha grandes olhos castanhos-cinza que pareciam tão sonhadores às
vezes que se podia imaginar que ela fosse capaz de esquecer os arredores banais
da vida quotidiana e viver em um mundo de faz-de-conta. Esquecendo a chuva lá
fora e considerando a cena aconchegante lá dentro, Sylvia lia atentamente sua
história que nem percebeu quando a porta se abriu e sua mãe entrou na sala.
“Ora, aqui está você,
querida Eu pensei que a encontraria no escritório do seu pai. Sinto muito, o
dia está horrível para a sua festa.”
Sylvia pousou o livro
com um estrondo e arrastando a mãe para a grande poltrona, instalou-se em seu
joelho e armou um abraço um tanto asfixiante.
“Oh, Mãe querida, eu
estou tão feliz!”, declarou ela. “Eu não queria uma festa e eu fiquei olhando a
chuva o tempo todo e torcendo para que continuasse a cair.”
“Sylvia! Achei que
você estaria terrivelmente desapontada. Você não quer ver seus amiguinhos?”
“Não muito.”
“Mas por que não, meu
amor?”
Sylvia apertou a mão
de sua mãe e suspirou, como se ela achasse um pouco difícil de se explicar.
“Muitas razões”, disse
ela brevemente.
“Diga-me quais são.”
“Por que, por um lado,
eu só li até o meio do Ivanhoé, onde Rowena é trancafiada no castelo do
Reginaldo Testa-de-boi e eu quero ver como ela escapa. Prefiro ficar e ler a ir
correndo pelo jardim jogando ‘Eu espiono!’”
“Mas eu pensei que
você gostasse de Effie e May e dos meninos Ferguson.”
“Eu odeio meninos!”
declarou Sylvia drasticamente. “Não o primo Cuthbert e do Ronald Hampson, mas
sim os meninos como os meninos Ferguson. Eles não fazem nada mais que chorar e
pregar peças nos outros. Eles são perfeitamente odiosos! Eu não gostei da minha
última festa. Eles me provocam cada vez que os encontro”.
“Como assim?”
“Eles me chamam de ‘A
Musa Trágica’, porque um dia eles pegaram uma das minhas poesias. Eles zoaram
muito com isso. E nem era um poema trágico. Era sobre o bebê dos Waltons” e
seus olhos azuis e seus cachos e ondulações. Eu escrevi ‘covinhas’, e eles liam
‘espinhas’! Eu não acredito que eles saibam o que significa trágico ou uma
musa. Eu sei por que aprendi na história grega, no mês passado. Senhora Walton
gostou da poesia. Ela disse que eu preciso copiá-lo em seu álbum e assinar o
meu nome. Ela acha que eu posso ser uma poetisa quando crescer, e ela também
acha é isso que me mantem tão magra e que ela a convenceu a me dar de óleo de
fígado de bacalhau, porque ela tinha certeza que iria me fazer bem. Você não
vai me dar isso, vai? Eu experimentei uma vez na casa da Tia Louisa e foi a coisa
mais repugnante que já bebi".
“Eu não acho que você
precise de mais remédios agora, por isso vamos poupá-la do óleo de fígado de
bacalhau”, disse a Senhora Lindsay, sorrindo. “Talvez Roy e Donald já tenham
esquecido o poema hoje à tarde.”
“Não, eles não
esquecem. Eles nunca se esquecem de nada se for para provocar. Eu preferia que
eles não viessem. Eu não quero que os Waltons venham também, ou os Carson. Está
tão agradável e tranquilo aqui, a Senhorita Holt saiu e é um dia tão chuvoso
que não haverá qualquer interrupção e eu posso tomar chá com você na sala de
visitas e o Papai disse que talvez ele estivesse de volta do escritório por
volta das cinco e meia. Ele prometeu que a próxima vez que visse para casa mais
cedo ele iria ver meu museu e me ajudar a rotular todas as conchas e que isso
seria muito melhor do que uma festa.”
“Eu pensei que você
gostasse de brincar com outras crianças, querida”, disse a Senhora Lindsay.
“Eu não acho que eu
gosto”, respondeu Sylvia. “É tão difícil fazê-los brincar corretamente. Eles
nunca podem imaginar coisas. Quando eu digo aos Waltons que há uma bruxa no
armário, olham para dentro e dizem que não há ninguém lá. Eles não conseguem
entender que você pode fingir coisas até que elas pareçam bem reais e ainda
assim é apenas imaginação. Quando eu disse a Beatrice e Nora Jackson que eu
conheci um dragão que viveu em sua carvoaria, eles foram e contaram a sua
governanta e ela disse que eu não era uma criança confiável!”
“Isso foi muito ruim!”
“Sim, não foi? Prefiro
não ir tomar chá nos Jacksons. Senhora Jackson sempre diz que eu não como o
suficiente. Beatrice e Nora recebem quatro fatias grossas de pão e manteiga
antes de começar com geleia ou mel e grandes tigelas de pão com leite ou pratos
de sopa de mingau no café da manhã. Acho que é um pouco rude de pessoas fazer
comentários sobre o que você come, quando você toma chá com elas. Você não
acha?”
“Depende”, disse a
Senhora Lindsay.
“Bem, eles mesmos não
gostam disso”, continuou Sylvia. “A última vez que os Jacksons estiveram aqui,
quando sua babá veio buscá-los eu lhe disse que tinha certeza de que tinham se
divertido, pois Nora tinha comido quatro pães e três bolos e Alfie tinha comido
dez sanduíches de geleia e um pedaço de bolo Madeira. Pensei que ela ficaria
feliz em ouvir eles comeram tanto, já que eles me censuram por comer tão pouco,
mas ela ficou com a cara vermelha e disse que eles não eram crianças ávidas.”
“Não foi uma
observação feliz, receio”, disse a Senhora Lindsay. “Você saberá se colocar
melhor próxima vez.”
“As pessoas nos livros
são muito melhores do que pessoas reais”, disse Sylvia melancolicamente. “Se eu
pudesse fazer uma festa e convidar o pequeno Senhor Fauntleroy e Alice de Alice
no País das Maravilhas, e Rose de Oito Primos e Rowena e Rebecca, e talvez a
Rainha Guinevere, e Hereward, então eu realmente deveria me divertir.”
“Você não pode fingir
que seus amigos sejam heróis e heroínas de romance?” disse a Senhora Lindsay,
beliscando as bochechas pálidas de Sylvia. “Você gosta tanto de faz de conta
que deveria ser muito fácil imaginá-los príncipes e princesas.”
“Não é tão fácil como
você pensa”, respondeu Sylvia, sacudindo a cabeça.
“Eu crio lindas
histórias sobre eles e eles só estragam tudo. Eu brinquei uma tarde inteira que
Effie era uma princesa encantada, presa em um jardim mágico, mas ela continuou
comendo maçãs verdes em vez de simplesmente se posicionar encantadoramente
entre as flores, e quando eu coloquei uma coroa de rosas em seu cabelo, ela
disse que tinha tesourinhas e aranhas na coroa e a tirou em seguida. Eu não me
atrevi a dizer-lhe que eu estava brincando, porque ela ria de mim. Eu comecei
um poema sobre ela, só que nunca foi além do primeiro verso. Tem esse menino
que vive na casa de grades verdes ao longo de nossa rua. Eu não sei o nome
dele, mas ele tem olhos azuis e cabelo encaracolado. Uma vez eu brinquei por
uma semana inteira que ele era Sir Galahad - ele é exatamente como a imagem que
Papai me mostrou no grande livro sobre a mesa da sala de visitas; mas quando eu
havia me decidido que ele estava quase encontrando o Santo Graal, ele jogou uma
bola de neve em mim e pisou forte na cauda de Lassie de propósito. Eu nunca
consegui pensar nele como Sir Galahad depois disso. Ah, Mamãe, não ria!”
“Não consigo evitar”,
disse a Senhora Lindsay, tentando endireitar seu rosto. “Eu receio que você
tenha feito uma escolha infeliz para seu cavaleiro.”
“É tão ruim
quanto," continuou Sylvia, "imaginar-se com um personagem de um
livro. Tudo depende de outras pessoas. Eu era Rowena em Ivanhoé ontem. Tive que
ser um pouco arrogante, porque, veja você, eu era uma princesa saxã e todo
mundo estava acostumado a obedecer qualquer desejo meu. Mas a Senhorita Holt
não entendeu nada; ela disse que se eu falasse com ela daquele jeito novamente
ela me mandaria para fora do quarto. Então eu tive que ser Peter Pan em vez de
Rowena e a Senhorita Holt me perguntou se eu estava passando mal. Ela ficou
realmente muito zangada comigo".
“Eu não duvido. Não
está certo misturar brincadeiras com seus estudos. Você sabe, não está chovendo
tão forte agora e eu certamente ouvi um táxi chegando ao portão. Acredito que
alguns de seus amigos estão chegando depois de tudo para tomar chá com você.”
“Por que, são eles
então!” exclamou Sylvia, saltando para correr para a janela, que permitia uma
visão da porta da frente e seus degraus. “Que aborrecimento! Eram Effie e May e
elas trouxeram as pequenas Carsons consigo. Elas vão ter que brincar na sala de
aula. Elas sempre querem brincar com minha velha casa de bonecas. Eu a coloquei
no armário e agora eu que terei de mexer nela novamente. Isso é muito ruim!
Talvez elas não peçam por ela se nós brincarmos no jardim Você não acha que eu
poderia dizer que eu não posso encontra-lo?”
“Oh, não, querida! A
casa de bonecas vai deixa-las felizes e você certamente deve deixá-las brincar
com ela. Corra rapidamente e vá abrir a porta do corredor para recebê-los. É
muito gentil da parte da Senhora Walton enviá-los, apesar da chuva.”
Sylvia foi, mas não
muito rápido ou de muito bom grado. Ela não estava nada satisfeita ao ver seus
convidados e preferia muito ter a tarde para si mesma.
“Eu nunca pensei que
você viria”, ela começou, enquanto as crianças saltavam rapidamente da cabine e
subiam correndo os degraus para a varanda.
“Nós estávamos tão
terrivelmente decepcionados”, disse Effie. “Nós estivemos observando o tempo o
dia todo. May quase chorou quando percebeu que o dia não ficaria claro tão
cedo. Mamãe disse que seria tão decepcionante para você e ela pensou que
poderíamos brincar dentro de casa. Ela telefonou para um táxi e ligamos para
Bab e Daisy no nosso caminho e as trouxemos conosco.” Assim dizendo, ela levou
as duas pequerruchas em questão, que estavam radiantes com sorrisos em seu
passeio inesperado.
“Oh! Nossos sapatos!”
chorou May; “Eu os deixei no táxi e o taxi está indo embora. Pare, pare!” E ela
saiu correndo loucamente para a chuva.
O cocheiro percebeu o
movimento e saindo do carro deu-lhe o pacote e se apressou em ir antes que a
Senhora Lindsay acabasse de dizer boa tarde para as outras crianças.
“Nós estamos indo
brincar com a casa de bonecas”, anunciou Daisy quando Sylvia pegou a mão dela
para levá-la lá em cima.
“E todas as pequenas
cadeiras e mesas”, acrescentou Bab, com dificuldades para se equilibrar em suas
pernas gordas.
Sylvia nada disse. Ela
estava irritada, pois a casa de bonecas tinha sido seu brinquedo favorito.
Apesar de ela ser agora muito velha para brincar com ela, Sylvia gostava de
manter seus tesouros intactos e temia que os pequenos dedos de Daisy e de Bab
podiam ocasionar estragos nos delicados móveis em miniatura e serviço de chá de
vidro.
Ela não tinha irmãos e
irmãs para estragar suas coisas, ou interferir com qualquer um de seus planos
ou brincadeiras, ninguém, de fato, a considerar, exceto seu importantíssimo
ego, e ela estava tão acostumada a manter a sala de estudos como seu reino
especial que ela ficava contrariada de se ver obrigada a partilhá-la até mesmo
por uma única tarde. Ela ajudou, no entanto, a tirar os chapéus e casacos das
Carson, a desabotoar as botas, a amarrar a fita de cabelo de Bab, que tinha de
saído e a prender o avental de May, e depois escoltado seus visitantes
indesejáveis de volta ao térreo do modo mais gracioso que podia.
Não foi nada interessante tomar chá na sala de
jantar com quatro crianças, pensou ela, enquanto estava sozinha na sala de
visitas com sua mãe, um privilégio que, devido a muitos deveres sociais da
Senhora Lindsay, Sylvia não costumava desfrutar, e desejou com todo seu coração
que tanto a Senhora Walton quanto a empresa de taxis não tinham a chamado ao
telefone.
Se Sylvia era uma
anfitriã displicente, no entanto, seus pequenos amigos pareciam determinados a
se divertir. Eles apreciaram o mel, os bolos de passas e o bolo gelado, e se
encantaram especialmente com os biscoitos que a Senhora Lindsay trouxe na
conclusão da refeição.
“Crackers, embora não
seja Natal!” gritou Effie com espanto.
“Por que não?” disse a
Senhora Lindsay. “Eles são tão divertidos agora, como em Dezembro, eu acho.
Aqui estão dois para cada um de vocês e vocês podem levá-los para cima, para a
sala de estudos.”
Houve uma debandada
geral para as escadas, os quatro convidados competindo com grande entusiasmo,
enquanto Sylvia seguiu vagarosamente atrás, debatendo em sua mente se seria
possível perder a chave do armário, e, assim, preservar a casa de suas bonecas
de mãos intrometidos.
“Os biscoitos vão
mantê-los ocupados por um curto período de tempo”, ela afirmou, “e então eu
posso apenas virar a chave na fechadura e esconder a casa por atrás da estante
de livros. Vou dar-lhes os quebra-cabeças e uma caixa de blocos de madeira em
vez da casa de bonecas”.
É fácil, no entanto,
fazer planos, mas é uma coisa bem diferente realiza-los. As jovens Carsons
sabiam perfeitamente onde a casa de bonecas estava guardada; elas correram na
frente de Sylvia na sala de estudos e, lançando os seus biscoitos em uma cadeira,
abriram o armário e foram pedindo-lhe para levanta-los para que pudessem pegar
o brinquedo cobiçado muito antes que ela tivesse qualquer oportunidade de
trancar a porta. Não havia nada que ela pudesse fazer, a não ser atender ao
pedido, o que ela fez de modo muito contrariado.
Ela colocou a casa de
bonecas no chão em um canto da sala e, depois de ter resgatado um ou dois dos
ornamentos mais frágeis, deixou Bab e Daisy se divertir e voltou sua atenção
para Effie e May.
Elas eram alegres,
meninas confiantes de oito e nove anos, que gostavam de jogos barulhentos e
movimentados muito mais do que se sentarem tranquilamente para ler livros. Elas
tinham logo aberto seus biscoitos, retirando os assobios e medalhões que vinham
neles e agora começaram a ansiosamente a perguntar o que fazer em seguida.
“Não podemos brincar
de pega-pega no salão?” disse Effie.
“Terra de Tom
Tiddler?” sugeriu May.
“Não há o suficiente
de nós”, disse Sylvia. “Além disso, eu acho que Mamãe mão iria gostar. A última
vez que brincamos lá, nós quebramos o jarro japonês e o Papai ficou muito
bravo. Vocês não viram esses mapas de quebra-cabeças. Não seria divertido para
tentar encaixá-los juntos?”
“Não, obrigado; lembra
muito lição de casa”, disse May fazendo uma careta.
“Odiamos geografia”,
acrescentou Effie.
“Gostaria de jogar
Halma?”
“Não sei como jogar”,
respondeu Effie.
“Eu poderia
mostrar-lhe rapidamente.”
“Oh, nós não gostamos
de aprender novos jogos!” May disse. “Queria que os Ferguson tivessem vindo.”
“Estou feliz que não
vieram”, pensou Sylvia, que não estava de todo em um bom temperamento para
entreter seus amigos. “Que um incômodo Effie e May são! Gostaria que elas
descobrissem algo para fazer e que não me incomodassem. Que eu não quero
mostrar-lhes o meu museu, mesmo que elas peçam. Devemos jogar bagatela?”
acrescentou ela em voz alta. “Vocês sabem como jogar isso de alguma forma.”
“Oh, sim!” disseram as
meninas, ajudando-a a levantar a placa grande e desdobrá-la em cima da mesa. “É
sempre tão divertido! Você não se lembra da última vez que fizemos pontuações
maiores do que você fez?”
“Eu esqueci”,
respondeu Sylvia. “Mas eu acho que é um jogo melhor para dois do que para três
jogadores, você joga mais vezes.”
“Você não vai jogar,
então?” exclamou Effie.
“Não, eu só iria
atrapalhar vocês. Além disso, eu tenho que cuidar de Bab e Daisy. Vocês começam
e eu vou entrar e marcar a pontuação de vocês.”
As pequenas Carsons
estavam felizes ocupadas com casa de bonecas que não havia a menor necessidade
de Sylvia negligenciar suas outras visitantes por causa das pequenas. Tornando-as a desculpa, no entanto, ela permitiu Effie e May se empolgarem com
o jogo para, em seguida, arrastar-se calmamente para fora da sala. Ela fugiu
escada abaixo para o a sala da frente, onde ela havia deixado Ivanhoé na grande
poltrona e, retornando com ele para a sala de estudos, ela sentou-se no assento
à janela, e logo seguindo absorta no assalto ao Castelo Torquilstone que ela
esqueceu a própria existência de suas amigas. Agora, como obra do destino, a
chuva cessou suficientemente para que Tia Louisa viesse perto das cinco horas,
atendendo a um apelo da Senhora Lindsay. Se ela não tivesse chegado naquele dia
em particular e naquela hora em particular, é bastante provável que os eventos
registrados nesta história poderiam nunca ter acontecido. Sylvia não tinha
certeza se ela, de fato, gostava da Tia Louise, que, apesar de ser educada e
liberal em matéria de presentes de aniversário e de Natal, tinha uma capacidade
de observar diretamente quando as pessoas eram egoístas, ou vaidosas, ou quando
tentavam se mostrar, percebendo rapidamente desculpas e farsas. Ela considerou
Sylvia mimada e não hesitou em dizê-lo; mas, por outro lado, ela se mostrou tão
bem-humorada quando sua sobrinha passou um dia no Laurel Bank e tratou-a como
tal, uma pessoa quase adulta, sensata. Sylvia invariavelmente se divertiu e
ansiava por ir novamente.
Era cerca de cinco e
meia quando a Senhora Lindsay e Tia Louisa, tendo terminado o seu bate-papo na
sala de visitas, subiram as escadas para dar uma espiada na sala de estudos e
ver como as crianças estavam indo. Elas descobriram Bab e Daisy sentadas no
chão, muito ocupadas em dar aos bebês da casa de bonecas seus banhos noturnos,
enquanto Effie e May estavam jogando bagatela com uma boa dose de ruído e
gritos.
“E onde está Sylvia?”
perguntou Tia Louise, olhando em volta com alguma surpresa para encontrar a
anfitriã ausente.
“Ela está lá”, disse
Effie, apontando para o assento da janela. “Ela não se importa com o jogo. Vá
em frente, May, é a sua vez.”
Senhora Lindsay
caminhou até a janela e, afastando as cortinas, encontrou Sylvia, de cócoras
sobre os calcanhares, como um turco, no canto do assento, inteiramente ocupado
com as aventuras do cavaleiro negro e seus companheiros fora da lei. A mãe
tirou o livro de sua mão.
“Sylvia!”, exclamou
ela. “Você não sabe que é extremamente rude da sua parte se sentar para ler e
deixar seus convidados se divertirem sozinhos? Levante-se neste minuto!”
Sylvia obedeceu com um
rosto muito vermelho. Ela nunca esperava ser pega assim.
“Eles estavam muito
felizes sem...” ela começou, mas os olhos da Tia Louisa indicavam ser mais
sábio deixar a frase inacabada.
“Tenho certeza que
elas iriam desfrutar de algum jogo que vocês poderiam jogar todos juntos”,
disse a Senhora Lindsay. “Se empurrar a mesa de lado, haverá muito espaço para
Cabra-cega.”
“Oh! Sim! Sim!”
gritaram as pequenas Carsons, agrupando as bonecas de volta para a casa de
bonecas e dançando para cima e para baixo com entusiasmo, enquanto Effie e May,
igualmente satisfeitas, ajudaram Sylvia para colocar o Bagatela de lado.
“Bab vai ser cega”,
implorou Daisy.
“Rodem-me três vezes”,
acrescentou Bab, encantado, já começando a girar em antecipação.
Senhora Lindsay e Tia
Louisa tiveram a amabilidade de se juntarem ao jogo e de instituir vários
outros depois, de modo que durante uma hora, as crianças tinham uma brincadeira
mais agradável, que continuou até a babá Carson chegou para levar Bab e Daisy
para casa. Mesmo Sylvia correu quando descobriu que as mais velhas faziam o
mesmo e ficou corada pelo esforço que sua mãe olhou para suas bochechas rosadas
com aprovação.
“Adeus!” disse aos
quatro pequenos visitantes, quando, finalmente, chapéus, casacos e botas tinham
sido colocados e todos eles correram antes de uma nuvem ameaçadora derrubasse a
chuva novamente.
“Eles parecem ter tido
um tempo maravilhoso, e se divertiram muito, senhora”, disse a babá, recolhendo
os sapatos e tomando a mão de Daisy.
“Será que você gostou
Sylvia querida?” perguntou a Senhora Lindsay, enquanto estavam na varanda
observando as pernas roliças de Bab bamboleando ao longo do passeio em um
esforço para manter o ritmo com passos mais largos de Effie.
“Não”, respondeu
Sylvia, “não tanto como tomar chá com você".
“Por que você não liga
para seus amigos, querida?”
“Porque eu gosto mais
de estar com você e Papai. Esse é o motivo. Qualquer outra coisa é um
incômodo!”
Senhora Lindsay alisou
o cabelo macio de Sylvia. Ajeitou uma mecha desorientada após um jogo
hilariante de Raposa e Ganso e abaixou-se para beijar o rostinho que se
transformou tão prontamente para receber o carinho.
“Meu precioso animal
de estimação!” murmurou a mãe com carinho.
Mas a Tia Louisa abanou a cabeça.
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