sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A Terceira Turma da Senhorita Kaye, por Angela Brazil: Capítulo I

UMA FESTA EM DIA CHUVOSO

Gotas, Gotas e mais gotas! A chuva caia em uma trade de setembro, transformando o gramado da quadra de tênis em um pântano, despetalando as rosas, estragando os gerânios e fazendo com que melros e tordos se apressassem para procurar abrigo no interior da casa de verão.

Era uma chuva firme que parecia não ter mais fim; não restava uma porção sequer do céu azul; grandes caracóis negros rastejavam ao longo do passeio do jardim como que apreciando o banho; e o barômetro no salão, que começou o dia no “Estável”, já indicava “Alteração” e não mostrava sinais de que subiria novamente.

Acomodada em uma grande poltrona colocada próxima a uma janela na bem mobiliada sala da frente, uma menina de cerca de onze anos de idade sentava-se espiando ansiosamente para o clima.
“Está tudo molhado!” ela comentou alegremente. “Parece que o dia não vai clarear e que já são quatro horas agora. Eles não podem vir, por isso vou apenas me acalmar e me divertir.”

Ela falou em voz alta para si mesma, um hábito muitas vezes cultivado por crianças solitárias e, abrindo uma cópia do Ivanhoé, ajeitou-se em uma atitude de ainda mais conforto e começou a se preparar para ler com o desprezo aos acontecimentos exteriores que marca o verdadeiro amante de livros. Ela era sim uma criança bonita; suas feições eram boas embora o pequeno rosto fosse pálido e magro; seu cabelo era macio e ela tinha grandes olhos castanhos-cinza que pareciam tão sonhadores às vezes que se podia imaginar que ela fosse capaz de esquecer os arredores banais da vida quotidiana e viver em um mundo de faz-de-conta. Esquecendo a chuva lá fora e considerando a cena aconchegante lá dentro, Sylvia lia atentamente sua história que nem percebeu quando a porta se abriu e sua mãe entrou na sala.

“Ora, aqui está você, querida Eu pensei que a encontraria no escritório do seu pai. Sinto muito, o dia está horrível para a sua festa.”
Sylvia pousou o livro com um estrondo e arrastando a mãe para a grande poltrona, instalou-se em seu joelho e armou um abraço um tanto asfixiante.

“Oh, Mãe querida, eu estou tão feliz!”, declarou ela. “Eu não queria uma festa e eu fiquei olhando a chuva o tempo todo e torcendo para que continuasse a cair.”
“Sylvia! Achei que você estaria terrivelmente desapontada. Você não quer ver seus amiguinhos?”
“Não muito.”
“Mas por que não, meu amor?”
Sylvia apertou a mão de sua mãe e suspirou, como se ela achasse um pouco difícil de se explicar.
“Muitas razões”, disse ela brevemente.
“Diga-me quais são.”
“Por que, por um lado, eu só li até o meio do Ivanhoé, onde Rowena é trancafiada no castelo do Reginaldo Testa-de-boi e eu quero ver como ela escapa. Prefiro ficar e ler a ir correndo pelo jardim jogando ‘Eu espiono!’”
“Mas eu pensei que você gostasse de Effie e May e dos meninos Ferguson.”
“Eu odeio meninos!” declarou Sylvia drasticamente. “Não o primo Cuthbert e do Ronald Hampson, mas sim os meninos como os meninos Ferguson. Eles não fazem nada mais que chorar e pregar peças nos outros. Eles são perfeitamente odiosos! Eu não gostei da minha última festa. Eles me provocam cada vez que os encontro”.
“Como assim?”
“Eles me chamam de ‘A Musa Trágica’, porque um dia eles pegaram uma das minhas poesias. Eles zoaram muito com isso. E nem era um poema trágico. Era sobre o bebê dos Waltons” e seus olhos azuis e seus cachos e ondulações. Eu escrevi ‘covinhas’, e eles liam ‘espinhas’! Eu não acredito que eles saibam o que significa trágico ou uma musa. Eu sei por que aprendi na história grega, no mês passado. Senhora Walton gostou da poesia. Ela disse que eu preciso copiá-lo em seu álbum e assinar o meu nome. Ela acha que eu posso ser uma poetisa quando crescer, e ela também acha é isso que me mantem tão magra e que ela a convenceu a me dar de óleo de fígado de bacalhau, porque ela tinha certeza que iria me fazer bem. Você não vai me dar isso, vai? Eu experimentei uma vez na casa da Tia Louisa e foi a coisa mais repugnante que já bebi".

“Eu não acho que você precise de mais remédios agora, por isso vamos poupá-la do óleo de fígado de bacalhau”, disse a Senhora Lindsay, sorrindo. “Talvez Roy e Donald já tenham esquecido o poema hoje à tarde.”
“Não, eles não esquecem. Eles nunca se esquecem de nada se for para provocar. Eu preferia que eles não viessem. Eu não quero que os Waltons venham também, ou os Carson. Está tão agradável e tranquilo aqui, a Senhorita Holt saiu e é um dia tão chuvoso que não haverá qualquer interrupção e eu posso tomar chá com você na sala de visitas e o Papai disse que talvez ele estivesse de volta do escritório por volta das cinco e meia. Ele prometeu que a próxima vez que visse para casa mais cedo ele iria ver meu museu e me ajudar a rotular todas as conchas e que isso seria muito melhor do que uma festa.”
“Eu pensei que você gostasse de brincar com outras crianças, querida”, disse a Senhora Lindsay.

“Eu não acho que eu gosto”, respondeu Sylvia. “É tão difícil fazê-los brincar corretamente. Eles nunca podem imaginar coisas. Quando eu digo aos Waltons que há uma bruxa no armário, olham para dentro e dizem que não há ninguém lá. Eles não conseguem entender que você pode fingir coisas até que elas pareçam bem reais e ainda assim é apenas imaginação. Quando eu disse a Beatrice e Nora Jackson que eu conheci um dragão que viveu em sua carvoaria, eles foram e contaram a sua governanta e ela disse que eu não era uma criança confiável!”
“Isso foi muito ruim!”
“Sim, não foi? Prefiro não ir tomar chá nos Jacksons. Senhora Jackson sempre diz que eu não como o suficiente. Beatrice e Nora recebem quatro fatias grossas de pão e manteiga antes de começar com geleia ou mel e grandes tigelas de pão com leite ou pratos de sopa de mingau no café da manhã. Acho que é um pouco rude de pessoas fazer comentários sobre o que você come, quando você toma chá com elas. Você não acha?”

“Depende”, disse a Senhora Lindsay.
“Bem, eles mesmos não gostam disso”, continuou Sylvia. “A última vez que os Jacksons estiveram aqui, quando sua babá veio buscá-los eu lhe disse que tinha certeza de que tinham se divertido, pois Nora tinha comido quatro pães e três bolos e Alfie tinha comido dez sanduíches de geleia e um pedaço de bolo Madeira. Pensei que ela ficaria feliz em ouvir eles comeram tanto, já que eles me censuram por comer tão pouco, mas ela ficou com a cara vermelha e disse que eles não eram crianças ávidas.”
“Não foi uma observação feliz, receio”, disse a Senhora Lindsay. “Você saberá se colocar melhor próxima vez.”

“As pessoas nos livros são muito melhores do que pessoas reais”, disse Sylvia melancolicamente. “Se eu pudesse fazer uma festa e convidar o pequeno Senhor Fauntleroy e Alice de Alice no País das Maravilhas, e Rose de Oito Primos e Rowena e Rebecca, e talvez a Rainha Guinevere, e Hereward, então eu realmente deveria me divertir.”

“Você não pode fingir que seus amigos sejam heróis e heroínas de romance?” disse a Senhora Lindsay, beliscando as bochechas pálidas de Sylvia. “Você gosta tanto de faz de conta que deveria ser muito fácil imaginá-los príncipes e princesas.”
“Não é tão fácil como você pensa”, respondeu Sylvia, sacudindo a cabeça.
“Eu crio lindas histórias sobre eles e eles só estragam tudo. Eu brinquei uma tarde inteira que Effie era uma princesa encantada, presa em um jardim mágico, mas ela continuou comendo maçãs verdes em vez de simplesmente se posicionar encantadoramente entre as flores, e quando eu coloquei uma coroa de rosas em seu cabelo, ela disse que tinha tesourinhas e aranhas na coroa e a tirou em seguida. Eu não me atrevi a dizer-lhe que eu estava brincando, porque ela ria de mim. Eu comecei um poema sobre ela, só que nunca foi além do primeiro verso. Tem esse menino que vive na casa de grades verdes ao longo de nossa rua. Eu não sei o nome dele, mas ele tem olhos azuis e cabelo encaracolado. Uma vez eu brinquei por uma semana inteira que ele era Sir Galahad - ele é exatamente como a imagem que Papai me mostrou no grande livro sobre a mesa da sala de visitas; mas quando eu havia me decidido que ele estava quase encontrando o Santo Graal, ele jogou uma bola de neve em mim e pisou forte na cauda de Lassie de propósito. Eu nunca consegui pensar nele como Sir Galahad depois disso. Ah, Mamãe, não ria!”
“Não consigo evitar”, disse a Senhora Lindsay, tentando endireitar seu rosto. “Eu receio que você tenha feito uma escolha infeliz para seu cavaleiro.”
“É tão ruim quanto," continuou Sylvia, "imaginar-se com um personagem de um livro. Tudo depende de outras pessoas. Eu era Rowena em Ivanhoé ontem. Tive que ser um pouco arrogante, porque, veja você, eu era uma princesa saxã e todo mundo estava acostumado a obedecer qualquer desejo meu. Mas a Senhorita Holt não entendeu nada; ela disse que se eu falasse com ela daquele jeito novamente ela me mandaria para fora do quarto. Então eu tive que ser Peter Pan em vez de Rowena e a Senhorita Holt me perguntou se eu estava passando mal. Ela ficou realmente muito zangada comigo".

“Eu não duvido. Não está certo misturar brincadeiras com seus estudos. Você sabe, não está chovendo tão forte agora e eu certamente ouvi um táxi chegando ao portão. Acredito que alguns de seus amigos estão chegando depois de tudo para tomar chá com você.”
“Por que, são eles então!” exclamou Sylvia, saltando para correr para a janela, que permitia uma visão da porta da frente e seus degraus. “Que aborrecimento! Eram Effie e May e elas trouxeram as pequenas Carsons consigo. Elas vão ter que brincar na sala de aula. Elas sempre querem brincar com minha velha casa de bonecas. Eu a coloquei no armário e agora eu que terei de mexer nela novamente. Isso é muito ruim! Talvez elas não peçam por ela se nós brincarmos no jardim Você não acha que eu poderia dizer que eu não posso encontra-lo?”
“Oh, não, querida! A casa de bonecas vai deixa-las felizes e você certamente deve deixá-las brincar com ela. Corra rapidamente e vá abrir a porta do corredor para recebê-los. É muito gentil da parte da Senhora Walton enviá-los, apesar da chuva.”
Sylvia foi, mas não muito rápido ou de muito bom grado. Ela não estava nada satisfeita ao ver seus convidados e preferia muito ter a tarde para si mesma.
“Eu nunca pensei que você viria”, ela começou, enquanto as crianças saltavam rapidamente da cabine e subiam correndo os degraus para a varanda.

“Nós estávamos tão terrivelmente decepcionados”, disse Effie. “Nós estivemos observando o tempo o dia todo. May quase chorou quando percebeu que o dia não ficaria claro tão cedo. Mamãe disse que seria tão decepcionante para você e ela pensou que poderíamos brincar dentro de casa. Ela telefonou para um táxi e ligamos para Bab e Daisy no nosso caminho e as trouxemos conosco.” Assim dizendo, ela levou as duas pequerruchas em questão, que estavam radiantes com sorrisos em seu passeio inesperado.
“Oh! Nossos sapatos!” chorou May; “Eu os deixei no táxi e o taxi está indo embora. Pare, pare!” E ela saiu correndo loucamente para a chuva.
O cocheiro percebeu o movimento e saindo do carro deu-lhe o pacote e se apressou em ir antes que a Senhora Lindsay acabasse de dizer boa tarde para as outras crianças.
“Nós estamos indo brincar com a casa de bonecas”, anunciou Daisy quando Sylvia pegou a mão dela para levá-la lá em cima.

“E todas as pequenas cadeiras e mesas”, acrescentou Bab, com dificuldades para se equilibrar em suas pernas gordas.
Sylvia nada disse. Ela estava irritada, pois a casa de bonecas tinha sido seu brinquedo favorito. Apesar de ela ser agora muito velha para brincar com ela, Sylvia gostava de manter seus tesouros intactos e temia que os pequenos dedos de Daisy e de Bab podiam ocasionar estragos nos delicados móveis em miniatura e serviço de chá de vidro.
Ela não tinha irmãos e irmãs para estragar suas coisas, ou interferir com qualquer um de seus planos ou brincadeiras, ninguém, de fato, a considerar, exceto seu importantíssimo ego, e ela estava tão acostumada a manter a sala de estudos como seu reino especial que ela ficava contrariada de se ver obrigada a partilhá-la até mesmo por uma única tarde. Ela ajudou, no entanto, a tirar os chapéus e casacos das Carson, a desabotoar as botas, a amarrar a fita de cabelo de Bab, que tinha de saído e a prender o avental de May, e depois escoltado seus visitantes indesejáveis de volta ao ​​térreo do modo mais gracioso que podia.
Não foi nada interessante tomar chá na sala de jantar com quatro crianças, pensou ela, enquanto estava sozinha na sala de visitas com sua mãe, um privilégio que, devido a muitos deveres sociais da Senhora Lindsay, Sylvia não costumava desfrutar, e desejou com todo seu coração que tanto a Senhora Walton quanto a empresa de taxis não tinham a chamado ao telefone.
Se Sylvia era uma anfitriã displicente, no entanto, seus pequenos amigos pareciam determinados a se divertir. Eles apreciaram o mel, os bolos de passas e o bolo gelado, e se encantaram especialmente com os biscoitos que a Senhora Lindsay trouxe na conclusão da refeição.
“Crackers, embora não seja Natal!” gritou Effie com espanto.
“Por que não?” disse a Senhora Lindsay. “Eles são tão divertidos agora, como em Dezembro, eu acho. Aqui estão dois para cada um de vocês e vocês podem levá-los para cima, para a sala de estudos.”
Houve uma debandada geral para as escadas, os quatro convidados competindo com grande entusiasmo, enquanto Sylvia seguiu vagarosamente atrás, debatendo em sua mente se seria possível perder a chave do armário, e, assim, preservar a casa de suas bonecas de mãos intrometidos.
“Os biscoitos vão mantê-los ocupados por um curto período de tempo”, ela afirmou, “e então eu posso apenas virar a chave na fechadura e esconder a casa por atrás da estante de livros. Vou dar-lhes os quebra-cabeças e uma caixa de blocos de madeira em vez da casa de bonecas”.

É fácil, no entanto, fazer planos, mas é uma coisa bem diferente realiza-los. As jovens Carsons sabiam perfeitamente onde a casa de bonecas estava guardada; elas correram na frente de Sylvia na sala de estudos e, lançando os seus biscoitos em uma cadeira, abriram o armário e foram pedindo-lhe para levanta-los para que pudessem pegar o brinquedo cobiçado muito antes que ela tivesse qualquer oportunidade de trancar a porta. Não havia nada que ela pudesse fazer, a não ser atender ao pedido, o que ela fez de modo muito contrariado.
Ela colocou a casa de bonecas no chão em um canto da sala e, depois de ter resgatado um ou dois dos ornamentos mais frágeis, deixou Bab e Daisy se divertir e voltou sua atenção para Effie e May.
Elas eram alegres, meninas confiantes de oito e nove anos, que gostavam de jogos barulhentos e movimentados muito mais do que se sentarem tranquilamente para ler livros. Elas tinham logo aberto seus biscoitos, retirando os assobios e medalhões que vinham neles e agora começaram a ansiosamente a perguntar o que fazer em seguida.
“Não podemos brincar de pega-pega no salão?” disse Effie.
“Terra de Tom Tiddler?” sugeriu May.

“Não há o suficiente de nós”, disse Sylvia. “Além disso, eu acho que Mamãe mão iria gostar. A última vez que brincamos lá, nós quebramos o jarro japonês e o Papai ficou muito bravo. Vocês não viram esses mapas de quebra-cabeças. Não seria divertido para tentar encaixá-los juntos?”
“Não, obrigado; lembra muito lição de casa”, disse May fazendo uma careta.
“Odiamos geografia”, acrescentou Effie.
“Gostaria de jogar Halma?”
“Não sei como jogar”, respondeu Effie.
“Eu poderia mostrar-lhe rapidamente.”
“Oh, nós não gostamos de aprender novos jogos!” May disse. “Queria que os Ferguson tivessem vindo.”
“Estou feliz que não vieram”, pensou Sylvia, que não estava de todo em um bom temperamento para entreter seus amigos. “Que um incômodo Effie e May são! Gostaria que elas descobrissem algo para fazer e que não me incomodassem. Que eu não quero mostrar-lhes o meu museu, mesmo que elas peçam. Devemos jogar bagatela?” acrescentou ela em voz alta. “Vocês sabem como jogar isso de alguma forma.”
“Oh, sim!” disseram as meninas, ajudando-a a levantar a placa grande e desdobrá-la em cima da mesa. “É sempre tão divertido! Você não se lembra da última vez que fizemos pontuações maiores do que você fez?”
“Eu esqueci”, respondeu Sylvia. “Mas eu acho que é um jogo melhor para dois do que para três jogadores, você joga mais vezes.”
“Você não vai jogar, então?” exclamou Effie.
“Não, eu só iria atrapalhar vocês. Além disso, eu tenho que cuidar de Bab e Daisy. Vocês começam e eu vou entrar e marcar a pontuação de vocês.”

As pequenas Carsons estavam felizes ocupadas com casa de bonecas que não havia a menor necessidade de Sylvia negligenciar suas outras visitantes por causa das pequenas. Tornando-as a desculpa, no entanto, ela permitiu Effie e May se empolgarem com o jogo para, em seguida, arrastar-se calmamente para fora da sala. Ela fugiu escada abaixo para o a sala da frente, onde ela havia deixado Ivanhoé na grande poltrona e, retornando com ele para a sala de estudos, ela sentou-se no assento à janela, e logo seguindo absorta no assalto ao Castelo Torquilstone que ela esqueceu a própria existência de suas amigas. Agora, como obra do destino, a chuva cessou suficientemente para que Tia Louisa viesse perto das cinco horas, atendendo a um apelo da Senhora Lindsay. Se ela não tivesse chegado naquele dia em particular e naquela hora em particular, é bastante provável que os eventos registrados nesta história poderiam nunca ter acontecido. Sylvia não tinha certeza se ela, de fato, gostava da Tia Louise, que, apesar de ser educada e liberal em matéria de presentes de aniversário e de Natal, tinha uma capacidade de observar diretamente quando as pessoas eram egoístas, ou vaidosas, ou quando tentavam se mostrar, percebendo rapidamente desculpas e farsas. Ela considerou Sylvia mimada e não hesitou em dizê-lo; mas, por outro lado, ela se mostrou tão bem-humorada quando sua sobrinha passou um dia no Laurel Bank e tratou-a como tal, uma pessoa quase adulta, sensata. Sylvia invariavelmente se divertiu e ansiava por ir novamente.

Era cerca de cinco e meia quando a Senhora Lindsay e Tia Louisa, tendo terminado o seu bate-papo na sala de visitas, subiram as escadas para dar uma espiada na sala de estudos e ver como as crianças estavam indo. Elas descobriram Bab e Daisy sentadas no chão, muito ocupadas em dar aos bebês da casa de bonecas seus banhos noturnos, enquanto Effie e May estavam jogando bagatela com uma boa dose de ruído e gritos.

“E onde está Sylvia?” perguntou Tia Louise, olhando em volta com alguma surpresa para encontrar a anfitriã ausente.

“Ela está lá”, disse Effie, apontando para o assento da janela. “Ela não se importa com o jogo. Vá em frente, May, é a sua vez.”
Senhora Lindsay caminhou até a janela e, afastando as cortinas, encontrou Sylvia, de cócoras sobre os calcanhares, como um turco, no canto do assento, inteiramente ocupado com as aventuras do cavaleiro negro e seus companheiros fora da lei. A mãe tirou o livro de sua mão.

“Sylvia!”, exclamou ela. “Você não sabe que é extremamente rude da sua parte se sentar para ler e deixar seus convidados se divertirem sozinhos? Levante-se neste minuto!”
Sylvia obedeceu com um rosto muito vermelho. Ela nunca esperava ser pega assim.

“Eles estavam muito felizes sem...” ela começou, mas os olhos da Tia Louisa indicavam ser mais sábio deixar a frase inacabada.

“Tenho certeza que elas iriam desfrutar de algum jogo que vocês poderiam jogar todos juntos”, disse a Senhora Lindsay. “Se empurrar a mesa de lado, haverá muito espaço para Cabra-cega.”

“Oh! Sim! Sim!” gritaram as pequenas Carsons, agrupando as bonecas de volta para a casa de bonecas e dançando para cima e para baixo com entusiasmo, enquanto Effie e May, igualmente satisfeitas, ajudaram Sylvia para colocar o Bagatela de lado.

“Bab vai ser cega”, implorou Daisy.

“Rodem-me três vezes”, acrescentou Bab, encantado, já começando a girar em antecipação.

Senhora Lindsay e Tia Louisa tiveram a amabilidade de se juntarem ao jogo e de instituir vários outros depois, de modo que durante uma hora, as crianças tinham uma brincadeira mais agradável, que continuou até a babá Carson chegou para levar Bab e Daisy para casa. Mesmo Sylvia correu quando descobriu que as mais velhas faziam o mesmo e ficou corada pelo esforço que sua mãe olhou para suas bochechas rosadas com aprovação.

“Adeus!” disse aos quatro pequenos visitantes, quando, finalmente, chapéus, casacos e botas tinham sido colocados e todos eles correram antes de uma nuvem ameaçadora derrubasse a chuva novamente.

“Eles parecem ter tido um tempo maravilhoso, e se divertiram muito, senhora”, disse a babá, recolhendo os sapatos e tomando a mão de Daisy.

“Será que você gostou Sylvia querida?” perguntou a Senhora Lindsay, enquanto estavam na varanda observando as pernas roliças de Bab bamboleando ao longo do passeio em um esforço para manter o ritmo com passos mais largos de Effie.

“Não”, respondeu Sylvia, “não tanto como tomar chá com você".
“Por que você não liga para seus amigos, querida?”
“Porque eu gosto mais de estar com você e Papai. Esse é o motivo. Qualquer outra coisa é um incômodo!”

Senhora Lindsay alisou o cabelo macio de Sylvia. Ajeitou uma mecha desorientada após um jogo hilariante de Raposa e Ganso e abaixou-se para beijar o rostinho que se transformou tão prontamente para receber o carinho. 

“Meu precioso animal de estimação!” murmurou a mãe com carinho.

Mas a Tia Louisa abanou a cabeça.

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